Notícia

15/08/2011 11:36

Devo, não cresço

A crise de endividamento dos Estados Unidos e da Europa, que agora ameaça a França, veio para ficar. Mesmo que as soluções costuradas pelos diversos governos acalme os mercados e as agências de rating desistam de rebaixar outros países centrais, as nações desenvolvidas terão que conviver por muitos anos com dívidas que representarão de 80% a 250% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos num país). A crise de 2008 marcou o agravamento da situação fiscal destes países, que tiveram que arcar com megapacotes de socorro às suas fragilizadas economias em recessão. O elevado patamar das dívidas dificultará a recuperação econômica mundial, afetando até os países emergentes, que - ao contrário do que sempre ocorreu - estão com dívidas comportadas, em melhor posição que os ricos, caso do Brasil.

A assimetria entre países emergentes e desenvolvidos ficará mais visível nos próximos cinco anos. Pelos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida média dos emergentes em relação a seu PIB é de 33,6%, já a do G-7 (grupo que reúne EUA, Japão, Alemanha, Itália, França, Canadá e Reino Unido) é o triplo (118,2% do PIB). Pelas projeções do Fundo, a diferença será de quatro vezes em 2016. Além do tamanho da dívida em si, os emergentes desfrutam de melhor situação fiscal e contam com um mercado doméstico pujante e fundamentos macroeconômicos mais sólidos - muitos conquistados pela imposição da cartilha criada por FMI e nações ricas nos momentos de penúria do passado.

A aposta de EUA e Europa em políticas monetárias e fiscais expansionistas pós-crise de 2008 não gerou o nível esperado de crescimento econômico e injeção de recursos do setor privado. As economias mais frágeis e com prazos de pagamento de dívida mais curtos, caso da Grécia, foram as primeiras a despertar a preocupação dos credores. Apesar de ter uma relação dívida bruta/PIB menor, a Espanha sofre pelo fraco desempenho da economia, que dificulta a redução de seu alto déficit. Já a Itália tem uma dívida de mais de 100% do PIB, mas ainda consegue gerar receitas superiores a seus gastos, tendo um déficit mais razoável, além de contar com uma dívida com prazos mais longos.

Segundo Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o que justifica essa distância é uma tradição de austeridade fiscal e nível de poupança doméstica elevado em países como China e Chile:

- Outra explicação é a lição de crises de dívida passadas por emergentes como o Brasil, que aprendeu o alto custo e impacto recessivo de fazer ajustes compulsórios em momentos agudos de crise, como acontecerá agora com os europeus - diz Langoni.

Dívida acima de 90% do PIB inibe expansão

Os países em desenvolvimento também aproveitaram o momento de bonança mundial, com China liderando a alta do consumo mundial, para melhorar seu endividamento. Entretanto, a situação ficará pior com as perspectivas de uma economia mais fraca nos Estados Unidos e na Europa, combinadas com a situação do Japão, que ainda se recupera da tsunami, e China e Índia às voltas com a inflação:

- Muitas nações aproveitaram a alta das commodities (produtos básicos com cotação mundial, como soja, petróleo e minério de ferro) para crescer e diminuir suas dívidas. Vemos que muitos países se viciaram nestas exportações e agora precisam buscar novos caminhos - afirmou Renato Baumann, professor de economia internacional da UNB.

A dívida bruta do Brasil, segundo projeções do FMI está em trajetória de queda e passou de 69,1% do PIB em 2005 para 65,7% neste ano. Segundo as projeções, estará em 58,6% em 2016. Mas o Brasil possui uma peculiaridade: grandes reservas internacionais, de US$350 bilhões, que foram adquiridas com parte do endividamento. Assim, o governo e muitos economistas preferem avaliar o país com base na dívida líquida, que também está recuando e se situa no patamar de 40% do PIB.

O Brasil, segundo ele, precisa estar atento e não aumentar os gastos. Para isso, dizem os economistas, seria mais inteligente o governo adotar medidas de estímulo para esta nova crise com medidas monetárias - como o corte de juros - em vez de medidas fiscais, como redução de tributos e aumento de gastos. Baumann lembra que muitas nações ricas estão envoltas em problemas que vão além dos pacotes de ajuda da crise de 2008, como os elevados gastos com previdência.

- Tanto na Europa quanto nos EUA será preciso adotar medidas fiscais e uma política de crescimento de longo prazo. A fórmula não é simples e tem um alto custo político - diz Juan Jensen, professor do Insper e economista da Tendências.

Um estudo do ex-economista do FMI e professor de Harvard Kenneth Rogoff conclui que em países com relação dívida/PIB acima do limite de 90% têm taxa de crescimento menor. Segundo Rogoff, a dívida dos países mais atingidos pela crise de 2008 (EUA, Grécia, Espanha, Portugal, Reino Unido e Islândia) subiu 134% em média desde 2007, superando os 86% de outras turbulências pós-Segunda Guerra.


Fonte: O Globo

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